segunda-feira, 14 de abril de 2014

Assunto polêmico...


Normalmente, mesmo tendo a minha opinião própria sobre certos assuntos, prefiro me abster de discussões principalmente quando sei que as mesmas não levarão ninguém a lugar nenhum.
Mas o objetivo do blog é ajudar outras mulheres que tiveram, tem e terão vaginismo, isso quer dizer que discutir alguns assuntos que nos levem a refletir sobre por que desenvolvemos ou desenvolveremos esse distúrbio é sempre necessário. Muitos desses motivos são assuntos polêmicos em nossa sociedade e outros verdadeiros tabus, alguns ainda fingimos que já foram resolvidos e que atualmente já não são mais assim tão assustadores, mas na verdade apenas são protegidos por um silencio politicamente correto na intenção de que não e discuta mais as ideias que temos sobre os mesmos.
Enfim, muitas vezes se faz necessário tratar desses assuntos que mexem com as pessoas de várias maneiras e falar das barreiras que cultivamos em nossas vidas alimentadas pelo tipo de organização social que temos. Na postagem de hoje vamos falar de um desses assuntos polêmicos que muitas vezes se somam a outros fatores e nos fazem desencadear o vaginismo.
Eu não sou exatamente a pessoa mais cristã desse país, aliás nem sei se ainda dá pra me classificar assim. Não sou satanista, nem ateia, nem tenho nada contra Jesus, nem contra as crenças monoteístas, o que me preocupa é ver cada vez mais religiões pregando conceitos absurdos, sobre o que é ser mulher e sobre as regras que ditam a respeito de sexualidade.
Na verdade sempre tento ser muito aberta a todas as religiões, e por isso sempre acabo tendo esse tipo de pensamento sobre essas religiões, estou sempre procurando conhecer mais e me informar. Sempre caio no conto do "vai que eu gosto dessa determinada igreja ou filosofia", não custa tentar, mas na maioria das vezes acabo é quebrando a cara.
Nasci em uma família de católicos praticantes, onde a orientação era que a relação sexual só deveria acontecer após o casamento, e na verdade numa família assim ninguém nunca fala dos outros tipos de atos sexuais, como a masturbação, o sexo oral, etc (tudo isso considerando o quanto a virgindade é importante para essa religião e seu conceito se restringe apenas ao rompimento do hímen, e que o mesmo deve ser mantido intacto até o matrimônio). Mesmo deixando o catolicismo cedo, foi em meio a essa atmosfera que cresci. Hoje sei o quanto isso influenciou a minha personalidade e consequentemente o desenvolvimento do vaginismo.
Recentemente vi um vídeo de uma igreja protestante sobre namoro (o objetivo de ver o vídeo foi o de sempre, vai que eu gosto da abordagem do tema, a necessidade da crítica só veio depois de assistir o vídeo até o fim...), por indicação de uma conhecida que faz parte dessa instituição. O que mais me assustou, foi dar de cara com conceitos medievais em referentes a relacionamentos, que nem pensei que ainda se propagassem, mesmo sabendo o quanto algumas dessas igrejas são rígidas em relação a esse assunto.
As instruções do pastor em alguns momentos faziam até algum sentindo, principalmente se considerarmos o tipo de jovens que a nossa sociedade vem desenvolvendo, mas a medida que teoricamente o relacionamento deveria se intensificar, as orientações ficavam cada vez mais absurdas.
Segundo o vídeo, os jovens que não tivessem a intenção ou a condição, financeira e hetaria de levar o relacionamento ao casamento nem deveria iniciá-lo. (esse pensamento é comum mesmo entre os católicos, uma vez que também é o pensamento da minha mãe em relação a isso, mas só vale se a pessoa em questão for mulher, se for um homem ele tem todo o direito de conhecer quantas mulheres ele quiser sem nenhum compromisso de preferencia..., eu sei, a minha família é machista! Mas isso é assunto para outra postagem.)
Se o jovem tiver as condições citadas a cima, a primeira coisa a fazer é descobrir se o que ele sente pela pessoa é recíproco, e se for ambos devem passar por um período de oração para descobrirem através de Deus se é isso o que querem de fato (momento que o pastor chama carinhosamente de "fazer a corte", pra gente se sentir ainda mais no século XV).
Após esse período de recolhimento, eles devem se conhecer conversando e orando juntos, devem descobrir se querem as mesmas coisas, se gostam das mesmas coisas e se acreditam nas mesmas coisas. Essa é a parte que acho aceitável da coisa toda, na maioria dos relacionamentos a compatibilidade é essencial, então nesse ponto faz todo sentido.
E por ultimo, vem a orientação sobre o relacionamento físico, que é pontual, objetiva e não deixa espaço para questionamentos. Só deve haver contato físico após o casamento! E o pastor ainda se diz muito feliz por ter exemplos de pessoas dentro da igreja que guardaram o primeiro beijo da vida para o dia do casamento (fato que eu realmente espero que aconteça apenas na cabeça dele).
Depois de ver aquele vídeo tive a certeza de que a quantidade de mulheres vagínicas, no Brasil pelo menos, tende a aumentar de acordo com a passagem do tempo e a disseminação dessas religiões.
Vai demorar muito para que as mulheres tenham autonomia na nossa sociedade para compreender a diferença entre valorizar o próprio corpo e se privar da própria sexualidade por motivos machistas, em função de instituições manipuladoras como a que elaborou o vídeo citado nesse post e tantos outros por aí a fora.
Espero que tenham gostado e que possam refletir sobre o que temos em nossa vida e por que os deixamos lá, a intenção era a reflexão e não agredir nenhuma religião ou crença.
Boa sorte e força a todas na luta em busca da cura!

terça-feira, 8 de abril de 2014

A estrada em frente vai seguindo, Deixando a porta onde começa, Devo seguir nada me impeça...


Parece que foi ontem que a minha jornada em busca da cura do vaginismo começava. Agora que finalmente encontrei o que busquei por tanto tempo ficou apenas a nostalgia e a sensação de inconformidade, por que ainda não consigo entender como eu não sabia antes do que sei agora.
Ter alta da terapia foi uma coisa que me deixou um pouco sem chão, esperava que a minha médica fosse prorrogar a alta por umas duas sessões ainda, mas não tínhamos mais o que buscar naquele contexto. Era hora de me lançar na vida sem o apoio constante da terapia.
Nossa despedida foi emocionante e de alguma forma senti como se ela me mostrasse que fui tão especial para ela, quanto ela para mim. É estranho o vazio que provei ao ir embora da ultima sessão de terapia sexual, a felicidade leve de quem finalmente conseguiu atingir o objetivo pelo qual batalhou tanto, misturada com o pesar de alguém que vai sentir falta de toda a luta que a levou até ali.
Fiz exames ginecológicos no consultório normalmente, sem grandes desconfortos, mas não pude deixar de lembrar da primeira vez em que me sentei naquela "mesa" de exames e não pude suportar quase nada perto de mim, tamanha era a dor. Ainda me lembro do sofrimento, do desespero, da primeira longa conversa após a tentativa de realizar os tais exames, de como me senti anormal por não estar pronta para fazer nada daquilo.
O momento do fim me fez lembrar de toda as crises de choro, de todas as complicações, de todo o crescimento, de todos os tabus deixados para trás, de todas as coisas aprendidas e sentidas.
Dizem que no fim da vida vemos tudo o que vivenciamos passar diante de nossos olhos, bom no fim do tratamento do vaginismo vi tudo o que vivi nesse caminho voltar a minha mente de uma forma que tudo o que restou em mim foi felicidade e saudade. Sim, saudade!
Só tenho a dizer para quem ainda está em busca de tudo isso, que sexo com penetração vaginal é muito mais simples, natural e leve do que pensamos, embora realmente seja tão bom quanto dizem...rsrsrsrsrsrs! Não existe nada de mirabolante, não machuca (como eu pensava antes que aconteceria), e o famoso rompimento do hímen, praticamente não dói, é só uma ardência bem leve que na verdade você só vai sentir mesmo quando a relação acaba. O que quero que vocês descubram mais rápido do que eu, é que pouca coisa do que nos disseram sobre sexo é verdade, e muitas vezes nos prendemos aos relatos e experiencias de outras pessoas que dizem que foi tão ruim, mas tão ruim que apenas alimentam o nosso medo. Se fosse tão ruim assim, muitas delas estariam em nossos lugares hoje e não contando suas histórias de terror e tendo suas relações sexuais normalmente.
Não desistam, não desanimem, na maior parte do tempo eu pensei que não conseguiria chegar até aqui, mas cá estou, contando como é essa nova fase, como é virar a página do vaginismo em minha vida. E sei que todas nós temos essa capacidade!
Beijos e muita força a todas vocês!